Cidadão Kane, dirigido por Orson Welles e lançado em 1941, não é apenas um filme: é um marco na história do cinema. Aclamado como a obra mais importante da sétima arte, o longa revolucionou técnicas de narrativa, cinematografia e montagem — e até hoje é estudado em escolas de cinema no mundo inteiro.
Mas afinal, o que torna “Cidadão Kane” tão especial? Por que seu impacto ainda reverbera décadas depois? Neste artigo, vamos analisar a fundo os elementos que fazem deste filme um verdadeiro divisor de águas, explorando seu contexto histórico, simbologia e legado.
Introdução ao Enredo: Quem foi Charles Foster Kane?
A história começa com a morte do magnata da mídia Charles Foster Kane. Suas últimas palavras — “Rosebud” — despertam a curiosidade de um jornalista que parte em busca de seu significado, entrevistando pessoas que fizeram parte da vida do protagonista.
A trama se desenvolve de forma não linear, por meio de flashbacks, depoimentos e lembranças fragmentadas. Essa estrutura inovadora revela aos poucos a complexidade de Kane: um homem poderoso, influente e, ao mesmo tempo, profundamente solitário.
Inovações Técnicas que Mudaram Tudo
1. Narrativa não linear e ponto de vista múltiplo
Até então, os filmes seguiam roteiros lineares e objetivos. Welles e o roteirista Herman J. Mankiewicz quebraram essa lógica ao construir uma narrativa que reconta a vida de Kane por diferentes perspectivas — nenhuma delas totalmente confiável. Isso cria uma ambiguidade rica, que convida o espectador à interpretação.

2. Profundidade de campo e fotografia revolucionária
O diretor de fotografia Gregg Toland utilizou pela primeira vez, de forma consistente, a profundidade de campo extrema. Isso permitia que todos os planos da cena — primeiro, segundo e fundo — estivessem em foco simultaneamente. A técnica deu ao espectador liberdade para escolher onde olhar, algo inédito na época.
3. Planos-sequência e uso criativo da câmera
A câmera em Cidadão Kane se movimenta com fluidez impressionante, passando por janelas, tetos e objetos, desafiando os limites físicos dos estúdios da época. Essa mobilidade técnica reforçava a atmosfera emocional das cenas.
Atuações e Personagens: A Grandeza e Queda de um Homem
Orson Welles, aos 25 anos, não só dirigiu como também protagonizou o filme. Sua interpretação de Kane é marcada por nuances, arrogância contida e vulnerabilidade crescente. O personagem é livremente inspirado em William Randolph Hearst, magnata da imprensa americana — o que gerou uma campanha de boicote contra o filme.
Os coadjuvantes também têm papel crucial, pois cada um apresenta uma faceta diferente de Kane, compondo um retrato complexo e multifacetado.
Contexto Histórico: Hollywood, Guerra e Poder
Produzido no início da década de 1940, o filme surgiu num momento em que os estúdios dominavam Hollywood e o cinema ainda buscava novas linguagens. Welles teve liberdade criativa inédita ao assinar contrato com a RKO Pictures — algo que gerou tensão com executivos, dada sua ousadia técnica e narrativa.
Além disso, Cidadão Kane antecipou discussões sobre mídia, manipulação da informação e poder político, temas que só cresceram nas décadas seguintes.
Simbolismo e Interpretação: O Mistério de “Rosebud”
A palavra “Rosebud”, última dita por Kane, é o grande mistério do filme. O espectador descobre ao final que ela era o nome de seu trenó de infância, símbolo de um tempo perdido, de sua inocência e felicidade genuína.
Interpretação: “Rosebud” representa o vazio que nem fama, riqueza ou poder conseguiram preencher. É uma metáfora sobre o preço da ambição e a perda da humanidade